O autor e a personagem / As relações entre autor e a personagem

O autor e a personagem

Inti Queiroz

O texto “O autor e a personagem” que abre o ensaio “O autor e a personagem na atividade estética” (APAE)  escrito em meados do início dos anos 1920 e presente na coletânea “Estética da criação verbal” nos remete de pronto ao texto “ O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária” (PMCF) escrito provavelmente entre 1923 / 1924. Já no título é possível estabelecer o diálogo entre os dois enunciados, pois o conceito de autoria é em ambos os textos ponto central da reflexão. Se no texto PMCF o conceito de autoria é entendido a partir de reflexões estéticas e fenomenológicas, em “O autor e a personagem” Bakhtin demonstra trazer novamente a questão em sua reflexão abordando já neste primeiro capítulo do ensaio uma definição do conceito de autoria em diálogo com outros conceitos relevantes para a teoria bakhtiniana.

No início do capítulo Bakhtin busca demonstrar as diferenças entre as categorias de autor-pessoa e autor-criador “o autor reflete a posição volitivo-emocional da personagem e não sua própria posição em face da personagem; (…) o autor cria, mas vê em sua criação apenas no objeto que ele enforma, isto é, vê dessa criação apenas o produto em formação e não o processo interno psicologicamente determinado” (BAKHTIN, 2010, p. 5)

Adiante ao tratar mais profundamente da questão da autoria que ele define como “o agente da unidade tensamente ativa do todo acabado, do todo da personagem e do todo da obra” Bakhtin desenvolve o tema trazendo á luz outros conceitos teóricos pertinentes para o início da construção do que poderíamos chamar de uma arquitetônica de sua obra. “A consciência do autor é a consciência da consciência, isto é, a consciência que abrange a consciência e o mundo da personagem, que abrange e conclui essa consciência da personagem com elementos por princípio transgredientes a ela mesma e que sendo imanentes, a tornariam falsa”. Esses elementos a que Bakhtin se refere relacionados à arquitetônica de uma autoria são desenvolvidos ao longo da página 11 do referido capítulo.

O primeiro elemento trazido para a reflexão é a questão da visão. “O autor não só enxerga e conhece tudo o que cada personagem em particular e todas as personagens juntas enxergam e conhecem, como enxerga e conhece mais que elas”(idem, p.11) a essa visão extra localizada Bakhtin chama de excedente de visão ou como algumas traduções apontam a exotopia.

O segundo elemento apontado é a questão do acabamento e do acabamento do acontecimento que ocorre de forma externa ao texto e deve ser pensado a partir da relação entre vida e arte. “Não posso viver do meu próprio acabamento” (Idem, p.11) Para Bakhtin a vida não tem acabamento enquanto vida, apenas na arte é possível darmos um acabamento concreto para um acontecimento. Desta forma demonstra que é a partir do olhar exotópico, do excedente de visão que o autor realiza o acabamento da obra. “O autor deve colocar-se à margem de si, vivenciar a si mesmo não no plano em que efetivamente vivenciamos nossa vida; só sob essa condição ele pode completar a si mesmo, até atingir o todo, com valores que a partir da própria vida são transgredientes a ela e lhe dão acabamento; ele deve tornar-se outro em relação a si mesmo, olhar para si mesmo com os olhos do outro (idem, p. 13).

O terceiro elemento levantado por Bakhtin é a diretriz volitivo-emocional concreta mostrada a partir da consciência da personagem, seu sentimento e seu desejo de mundo e realizada pelo acabamento do autor “é abrangida de todos os lados, como em um circulo, pela consciência concludente do autor a respeito dele e do seu mundo” (idem, p. 11)

O quarto e último elemento, porém não menos importante e que possibilita nossa reflexão acerca da arquitetônica é o centro axiológico que Bakhtin define como “o todo da personagem e do acontecimento a ela referente, ao qual devem estar subordinados todos os valores éticos e cognitivos.” (idem, p.11)

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As relações entre autor e personagem

Simone Ribeiro de Avila Veloso

            Em “O autor e a personagem”, primeiro capítulo de “O autor e a personagem na atividade estética”, Bakhtin pontua, inicialmente, a ausência de uma abordagem teórica estética que considere a relação entre personagem e autor, não como elementos da vida psicológica e social, mas integrantes de um todo estético, ético e cognitivo da obra.

Um dos equívocos destacados pelo autor em trabalhos histórico-literários consistia em extrair o material biográfico diretamente das obras e vice-versa, em uma relação aparentemente mecânica entre elementos prosaicos e a obra estética, o que revelaria, por exemplo, até mesmo certas coincidências entre fatos das vidas das personagens e do autor. Frente a tal equívoco, o pesquisador russo propõe que se considere o elemento essencial que se constitui pela forma de tratamento do acontecimento.

Tal abordagem não descarta a comparação das biografias do autor e das personagens e suas respectivas visões de mundo, nega, contudo, a confusão entre autor-criador – elemento da obra – e autor-pessoa – elemento do acontecimento ético e social da vida e na relação do autor com a personagem.

Responsável pelo todo da obra, encontra-se o excedente de visão do autor, que lhe permite ver e conhecer o que todas as personagens de seus lugares não conseguem. Dessa forma é que o autor guia a personagem e sua orientação ético-cognitiva no contexto da obra. Se essa se delineia enquanto unidade inacabada, aquele se fundamenta como núcleo de certo distanciamento em relação a ela, o que possibilita a excedência de visão.

Acerca da relação autor-personagem, Bakhtin destaca casos típicos de desvio quando a personagem coincide com o autor na vida (autobiografia). Nesse caso, esse deve “colocar-se à margem de si”, ou seja, arregimentar-se de um excedente de visão que lhe possibilite oferecer acabamento ao personagem na obra. Em outros termos, deve se tornar um outro de si mesmo: o autor se avalia a partir do olhar alheio para retornar a si mesmo com nova percepção acerca de seu todo estético e axiológico.

Bakhtin ainda destaca que, caso o autor perca esse distanciamento, é possível ocorrer três casos típicos da relação autor-personagem: 1) a personagem assume o domínio sobre o autor que não consegue contemplá-la inteiramente; 2) em um segundo caso, o autor “se apossa da personagem” podendo constituir-se em dois sentidos: não sendo autobiográfica, personificam a visão do autor ou autobiográfica, de modo a vivenciar o seu inacabamento como limitação; 3)e, em um terceiro caso, configura-se pela presença da personagem como autora de si, responsável ela sua heroificação ou satirização por aspectos físicos e imagem externa na relação com o plano de fundo do mundo.

Bakhtin observa, dessa forma, a importância da autoria criadora na constituição do acabamento estético da obra, o que necessariamente envolve a relação dessa autoria com as personagens. Compreende-se que, nesse texto, já se encontram, em linhas gerais, diretrizes teóricas constitutivas, por exemplo, de “Problemas da Poética de Dostoiévski”, obra basilar da teoria do Círculo em que Bakhtin delinearia não apenas o conceito de polifonia, como também elementos fundamentais da Metalinguística, ciência que estuda as relações dialógicas.

BAKHTIN, Mikhail. “O autor e a personagem” IN: Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003[1952-53]. p. 261-308.

________________. “O problema do conteúdo do material e da forma na criação literária.” IN: Questões de literatura e de estética. 6ª Ed.  São Paulo: Hucitec, 2010.

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Divulgando: eventos internacionais

 

2013:

IV Coloquio de Investigadores en Estudios del Discurso / III Jornadas Internacionales sobre Discurso e Interdisciplina.

De 12 a 14 de junho de 2013, Universidad de Quilmes, Bs. As. Argentina.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 23/03/2013.
Informações: aled2013.unq.edu.ar/
X ALED – Congreso Internacional de la Asociación Latinoamericana de Estudios del Discurso
De 28 a 31 de outubro de 2013, México.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 26/04/2013.
Informações: xcongresoaled.weebly.com/segunda-circular-portugues.html

10th International Conference on Terminology and Artificial Intelligence

De 28 a 30 de outubro de 2013, Paris, França.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 21/06
Informações: flores.lipn.univ-paris13.fr/tia2013/Call_for_papers.html

2012:

7 a 8 de junho – Colloque Monologuer, Paris:

– https://groups.google.com/group/gehlf/browse_thread/thread/e756186bf7341934?pli=1

4 a 7 de julho3rd International Interdisciplinary Conference on Perspectives and Limits of Dialogism in Mikhail Bakhtin: Focus on Women (chamada para papers até 15 de junho)

http://rhrc.uark.edu/11023.php

15 a 17 de outubro – Colloque International: Langues, cultures et médias en méditerranée, Ouarzazate:

http://www.cjb.ma/249-newsletter-une/1667-colloque-international-ouarzazate-15-17-octobre-2012-langues-cultures-et-medias-en-mediterranee-1667.html

Outros eventos: http://cnfrabat.blogspot.com/p/appels-communications-contributions.html

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O twitter dos presidenciáveis no Brasil

nota de Flávia Machado

Recentemente, nosso amigo e integrante do grupo Artur Modolo cedeu uma entrevista sobre os perfis dos presidenciáveis no Twitter (objeto de análise de sua dissertação de mestrado). Trata-se de uma pesquisa muito significativa tanto para os estudos sobre discurso digital, assim como para a análise metalinguística, a partir da teoria do Círculo de Bakhtin.

Abaixo, segue a entrevista:

http://www.usp.br/agen/?p=138645

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O PLURILINGUISMO NO ROMANCE

texto de Urbano Cavalcante Filho

O segundo encontro do subgrupo de pesquisa da Teoria Bakhtiniana, ocorrido em 08/04/2013, sob a coordenação da Profª Sheila Grillo, teve como objeto de estudo e discussão a 3ª parte do ensaio O discurso no romance, de Mikhail Bakhtin.

A discussão tem início com a fala de Urbano pontuando, apoiado nas palavras de Faraco (2003) que, para o Círculo de Bakhtin, qualquer palavra (qualquer enunciado concreto) encontra o objeto a que se refere já recoberto de qualificações, envolto por uma atmosfera social de discursos, por uma espécie de aura heteroglótica. (Curiosamente, percebeu-se que heteroglossia, termo do inglês utilizado por Faraco para se referir à pluralidade discursiva, ao plurilinguismo bakhtiniano, não se encontra dicionarizado em português).

Nessa terceira parte do ensaio, intitulada O plurilinguismo no romance, vem à tona um dos conceitos mais significativos da teoria bakhtiniana: o plurilinguismo, definido por Bakhtin como “o discurso de outrem na linguagem de outrem” (2010, p. 127). Urbano propõe então que a discussão dessa unidade do ensaio, a partir de sua leitura, seja feita a partir de 3 partes que ele julgou fundamentais, e que poderiam ser assim divididas e subintituladas: 1) Análise dos procedimentos plurilinguísticos no romance humorístico, 2) Introdução e utilização estilística do plurilinguismo e 3) A bivocalidade do discurso literário.

1. A análise dos procedimentos plurilinguísticos no romance humorístico

Considerando a diversidade das linguagens do mundo e as variadas formas que o plurilinguismo se apresenta na prosa literária (o romance), Bakhtin, nessa primeira parte do texto, elege o romance do tipo humorístico (apresentando como representantes Henry Fielding, Laurence Sterne , Charles Dickens (ingleses), Theodor Von  Hippel e Jean-Paul (alemães)) para analisar formas típicas e fundamentais de aparecimento do plurilinguismo no romance. Então mostra, a partir da análise de alguns trechos do romance Little Dorrit de Charles Dickens (1891), as maneiras como o autor manipula as vozes (forma dissimulada, forma aberta, motivada pseudo-objetivamente, construções híbridas etc.), onde se é possível perceber na composição sintática, por exemplo, dois tons, dois estilos, duas “linguagens”, duas perspectivas semânticas e axiológicas distintas, sem,  necessariamente,  apresentar nenhuma fronteira formal que identifique a inserção de vozes no discurso. Inti pontua, a partir de sua experiência leitora de Dickens, como a ironia, o humor, a paródia, essas “outras vozes”, esses outros tons, são bem marcantes e perceptívies no romance do autor inglês.

 2. Introdução e utilização estilística do plurilinguismo

Nesse segundo momento do texto, o teórico russo salienta que a introdução das diversas “linguagens” com suas perspectivas socioideológico-verbais dá-se de forma impessoal “por parte do autor”, mas que realizam a refração das suas intenções. Ou seja, tanto no objeto da narração quanto no narrador, o autor se realiza e realiza o seu ponto de vista, envolto de qualificação e sua tonalidade semântico-axiológica.

Luiz Rosalvo problematiza esse ponto, destacando a importância e a necessidade do domínio de dispositivos analíticos por parte do leitor/pesquisador para a percepção desses dois momentos da narração: o plano do narrador, com sua perspectiva expressiva e semântico-objetal, e o plano do autor que fala de modo refratado nessa narração. E é essa percepção do segundo plano que permite que se tenha a compreensão da obra como um todo. Sheila e Elise destacam também, a partir de exemplos da obra dostoievskianas, que a compreensão da obra e a percepção desse segundo plano só é possível se o leitor tiver conhecimento também do contexto sócio-histórico da época e das condições de produção do autor, bem como da visão de mundo vigente no período, entre outros elementos.

O discurso das personagens é a outra forma de introdução e organização do plurilinguismo no romance. Isso significa dizer que as refrações das intenções do autor também se dão pelas palavras dos personagens no romance que, embora possuam autonomia semântico-verbal e perspectiva própria, acabam por se tornar a segunda linguagem/voz do autor. Com isso, Bakhtin exemplifica, através de alguns exemplos das obras Pais e Filhos e Terra Virgem de Turguêniev, como o plurilinguismo social é introduzido tanto nos discursos diretos da personagens como no discurso do autor, ao redor dos personagens.

A terceira e última forma de utilização, considerada por Bakhtin como uma das formas mais importantes da introdução e organização do plurilinguismo no romance é a dos gêneros intercalados, referindo-se ao fato de ser possível introduzir, no romance, linguagens que estratificam a unidade linguística e aprofundam de modo novo a sua multiplicidade. Em outras palavras, qualquer outro gênero pode ser introduzido no romance, tanto literário quanto extraliterário (a exemplo de um poema, novela ou gênero científico, religioso), habitualmente conservando sua estrutura e sua autonomia e originalidade tanto estilística quanto linguística. No entanto, ressalta o estudioso, há gêneros que, ao serem introduzidos no romance como elemento estrutural, por sua força estilístico-composicional, acabam por determinar a estrutura do romance sem sua totalidade, como é o caso da confissão, do diário, a biografia, a carta, entre outros.

3. A bivocalidade do discurso literário

Finalizando o ensaio, em sua última parte, Bakhtin ratifica a ideia central da sua reflexão, afirmando que o plurilinguismo introduzido no romance é “o discurso de outrem na linguagem de outrem, que serve para refratar a expressão das intenções do autor” (p. 127), ou seja, trata-se de uma palavra bivocal, já que ela exprime a intenção direta da personagem que fala e a intenção semântico-axiológica refratada do autor. Dessa forma, a teoria bakhtiniana encara o discurso com uma bivocalidade que lhe é inerente, como se vê no discurso humorístico, irônico, paródico, dos gêneros intercalados. Trata-se de um discurso internamente dialogicizado, onde duas vozes coexistem e se cruzam multiformemente, correlacionando-se numa dialogicidade intrínseca característica, apoiando-se mutuamente, interiluminando-se, contrapondo-se parcial ou totalmente, parodiando-se, arremedando-se, polemizando velada ou explicitamente.

Referências

BAKHTIN, M. O discurso no romance. Questões de literatura e estética. A teoria do romance. Trad. A.F. Fernadini et al. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 2010. p. 71-210.

BAKHTIN, M.M. Slovo v romane. In: BOTCHAROV, S.; KOJINOV, V.V. M.M. Bakhtin Sobránie sotchinénii t. 3: teóriia romána (1930-1961 gg.) Moscou: Iasyki slaviánskikh kultur, 2012. p. 9-179.

FARACO, C. A. Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições, 2003

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Entendendo “O discurso no romance” : a estilística e as diferenças entre o discurso poético e romanesco

Texto de Flávia Machado

Contextualização da obra

Iniciando os trabalhos de 2013, o primeiro encontro do nosso grupo de pesquisa dedicou-se à discussão de “O discurso no romance”. Escrito em 1934-35, o texto foi publicado após a morte do autor, em 1975, juntamente com outros ensaios escritos por Bakhtin entre 1924 e 1941, com um anexo em 1973.

Dentre os exemplares trazidos pelos colegas, havia o original em russo, a tradução francesa – aliás, a primeira tradução da obra, feita por Daria Olivier em 1978 – e a tradução brasileira. A partir da diversidade dos volumes, pudemos fazer comparações das traduções com a obra original, além de compreender melhor sua recepção no contexto acadêmico de cada país.

Duas observações feitas pela profa. Sheila, a partir de sua leitura do original em russo, abrem o debate. Em primeiro lugar, ela destacou que a essência do ensaio é a crítica à estilística tradicional, bem como a proposta de uma estilística sociológica, capaz de fazer uma aliança entre a estilística e a prosa. Na introdução russa, a metaestilística figura-se como um elemento central. Em seguida, ela salientou um importante interlocutor de Bakhtin na época, citado pelo autor em passagens do texto. Trata-se de Vinogradov, um grande teórico russo, opositor das ideias bakhtinianas, ainda pouco conhecido no Brasil.

Ainda no tocante à contextualização do ensaio, nossos colegas Inti e Artur chamaram a atenção para o momento histórico pelo qual passava a Rússia na época: a ascensão de Stalin e o projeto de unificação da língua nacional. Um dos maiores motivos de repressão da época era a transgressão da norma linguística vigente e imposta pelo governo. Compreendendo que a língua é dotada de aspectos ideológicos, controlar o uso da língua foi uma media opressora adotadas pelas forças políticas da época.

Antes de o stalinismo ser instaurado, Rosalvo afirmou que havia um debate aberto na esfera acadêmica e entre os intelectuais russo. Sendo assim, o marxismo não foi a única força que moveu as teorias críticas ao socialismo, mas também a tentativa de ocidentalização da inteligensia russa – que fez discussões sobre a vida social e a arte da geração de 1860. A ideologia – conceito-chave para a tese do Rosalvo –  já havia começado a ser estudada.

Características importantes da obra

Ao longo dos encontros, e mesmo por meio de leituras individuais que fazemos para nossas pesquisa, acabamos observando as relações (dialógicas!) entre as obras do Círculo de Bakhtin de diversos modos: entre os textos dos autores que formavam o Círculo, na resposta dos autores bakhtinianos à teoria formalista e a outros teóricos, e nas próprias obras de Bakhtin ao longo do tempo – considerando a sua longevidade em relação aos demais.

Na inserção da Simone, pudemos notar que alguns conceitos já trabalhados em Problemas da Obra de Dostoievski são retomados, como a questão da orientação do discurso (para o seu próprio objeto ou para o discurso de outrem). Além disso, Simone lembrou-nos de que a proposta da ausência de ruptura entre os aspectos ideológicos e formais também é apresentada em Marxismo e Filosofia da linguagem (Volochínov, 1928). A complementaridade entre Bakhtin, Medevdev e Volochínov torna-se cada vez mais evidente para nós e a leitura das obras passam a constituir um processo complexo ao pesquisador, como bem relatou a Arlete.

Mais questões de tradução

A discussão voltou-se para a presença de alguns termos e suas respectivas traduções. Na versão em português, Artur indicou a presença do termo ‘multilinguismo’ que encontramos como ‘polylinguisme’ na versão francesa. Vimos que os termos traduzidos em português estão em concordância com os termos do russo e os autores optaram pelo prefixo ‘pluri’: ‘plurilinguismo’, ‘purilingue’, ‘plurivocal’. No francês há uma certa variação no emprego dos prefixos.

O plurilinguismo pode levar-nos a pensar na existência de diferentes línguas no romance, “assim como em Tolstói em que há páginas e páginas em francês”, esclareceu Sheila. No entanto, parece que a ideia central de Bakhtin é da pluralidade de discursos, um conceito mais amplo.

Fechando as questões de tradução, no russo, a palavra utilizada para designar língua e linguagem é a mesma – iazyk – , o que pode causar desencontros epistemológicos na língua de recepção da obra. No entanto, Sheila optou por traduzir o termo como ‘linguagem’, quando se tratava da “linguagem poética”.

Conceitos-chave

Desenvolvendo seus conceitos-chave, Bakhtin olhava para uma questão nacional, como discutimos na contextualização da obra, mas também olhava para uma noção mais universal. Sheila acrescentou que sua teoria possui um alcance maior do que a questão da língua (o russo). Da mesma forma, apesar de criar uma teoria do romance, a partir de análises específicas, a proposta teórica de Bakhtin aplica-se ao discurso, ou seja, ele formulou uma teoria do discurso.

O dialogismo é certamente um dos conceitos mais contundentes trabalhados até o momento em O discurso no romance. Bakhtin observa a relação entre enunciado e mundo, exatamente onde entram as relações dialógicas. O discurso e sua relação com os discursos anteriores e a inseparabilidade do discurso com a sua realidade sócio-histórica são conceitos que Bakhtin desenvolverá potencialmente ao longo deste texto e outros.

Encerro retomando a fala da Sheila sobre a análise proposta por Bakhtin. Esse modo de análise não foi criado hibridamente pelo autor. Pode-se dizer que o traço distintivo da análise bakhtiniana é a percepção sobre as relações dialógicas. No entanto, deve-se reconhecer que Bakhtin fundou uma verdadeira teoria do romance.

***

Lembrete: nosso próximo objetivo será terminar a discussão do ensaio a partir do item 3. Boa leitura a todos!

Referências

BAKHTIN, M.M. O discurso no romance. Questões de literatura e estética. A teoria do romance. Trad. A.F. Fernadini et al. 3. ed. São Paulo: UNESP/Hucitec, 1993. p. 71-210.
BAKHTIN, M.M. Slovo v romane. In: BOTCHAROV, S.; KOJINOV, V.V. M.M. Bakhtin Sobránie sotchinénii t. 3: teóriia romána (1930-1961 gg.) Moscou: Iasyki slaviánskikh kultur, 2012. p. 9-179.
BAKHTINE, M.M. Le discours dans le roman. Esthétique et théorie du roman. Traduction Daria Olivier. Paris: Édition Gallimard, 1978 [1975].

 

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Próximos encontros

Ao longo do primeiro semestre de 2013, discutiremos o texto “O discurso no romance” nas seguintes datas:

– 11/03

– 08/04

– 13/05

– o3/06

Convidamos os interessados à leitura e discussão dos tópicos aqui no blog. Até breve!

Flávia

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Slovo v jizni i slovo v poesii (Questões de poética sociológica)

colaborou Sheila Grillo

No último encontro do subgrupo, fechamos nosso ano acadêmico com a discussão sobre as partes finais do texto “A palavra na vida e a palavra na poesia”.  Em seguida, reproduzimos resumidamente os aspectos mais relevantes da discussão, identificando as páginas e momentos em que aparecem no texto original.

Parte IV

Os três aspectos da palavra na vida:

I) Sua relação “interna” com o contexto social por meio, entre outros, da entonação e do gesto. Por exemplo, o conteúdo da palavra “bem” (“tak”) depende da entoação que está ancorada no contexto, na situação extraverbal. (p. 80). A entonação, por sua vez, depende da avaliação de dado grupo social, sendo social por excelência – a entonação fica no limite entre o verbal e o não verbal, entre o dito e o não-dito, entre a vida e a parte verbal do enunciado (p. 80, 84). A estrutura do discurso, da fala depende da relação do enunciado com a avaliação subentendida naquele meio social. (p. 81)

A entonação é caracterizada da seguinte forma:

1) apoio em coro, coral – seu elemento direcionado ao ouvinte, tomado na sua orientação social. Antecipação da reação do ouvinte (concordância ou discordância)

2) terceiro participante – relação com o objeto do enunciado, tendendo a personificá-lo – no exemplo culpa-se o inverno.

A entonação tem capacidade metafórica, ou seja, capacidade de condensar sentidos. Já a entonação metafórica está ligada ao gesto metafórico e precisa do apoio coral. Entonação e gesto expressam o estado de ânimo do falante e sua relação com o mundo e o meio social. (p. 82).

II) Palavra pronunciada ou escrita é produto de uma relação social: entre o falante (autor), ouvinte (leitor) e aquele de quem se fala (protagonista) (p. 83). “A alma social” da palavra lhe dá seu significado artístico. (p. 83). O enunciado concreto nasce, vive e morre no processo de interação social dos participantes do enunciado, a qual determina sua forma e significado. (p. 83)

III) Sentido global, o sentido vital e o valor ideológico do enunciado decorrem desse aspectos (p. 83, 84)

Parte V 

Diferença entre o enunciado verbal artístico (uma obra poética acabada) e o enunciado cotidiano, da vida.

1) Obra poética não tem uma dependência estreita do contexto extra-verbal (p. 84);

2) A obra poética é um potente condensador de avaliações sociais não expressas (p. 85) voltadas para o ouvinte e para o objeto do enunciado;

3) A forma tem um caráter avaliativo ativo, realiza-se em um material e tira seu significado do conteúdo. Representa uma atitude ativa com o representado. A escolha do conteúdo e da forma é um ato que estabelece a posição do criador, nela localiza-se a expressão de uma única avaliação social.(p. 86)

Parte VI

A última parte do texto ressalta que a  análise linguística não dá conta do fenômeno artístico, pois aborda a palavra e as inter-relações entre seus aspectos abstratos (fonéticos, morfológicos, sintáticos, etc).

A Poética sociológica é definida como a obra de arte que só existe no processo de relação social viva do qual fazem parte o autor, herói e ouvinte. (p. 87) Esses elementos determinam a forma e o estilo da obra poética (p. 89), a saber:

1) O valor hierárquico do herói. A categoria axiológica do acontecimento representado e de seu portador são o primeiro aspecto do conteúdo a determinar a forma. (p. 87) O tom principal do estilo é determinado pela relação hierárquica entre o autor e o protagonista do enunciado. (p. 88)

2) A relação de proximidade entre o herói/protagonista e o criador determina o estilo. Esse aspecto tem expressão gramatical na categoria da pessoa (primeira, segunda, terceira).

3) O ouvinte e sua relação com o autor, por um lado, e com o protagonista, por outro. O ouvinte ora está próximo do autor (p. 90), ora está próximo do protagonista, como na polêmica e na sátira. A poesia lírica aproxima o autor do ouvinte, o autor tem absoluta certeza da simpatia do ouvinte.

O poeta recebe a palavra e aprende suas entonações ao longo de toda a vida no processo de relações multilaterais com o seu meio. (p. 91). O próprio ato de consciência ocorre por meio do discurso interior, formado por palavras, entonação e avaliação, portanto, já é um ato social. (p. 92).

Conclusões gerais:

A partir da leitura, conclui-se que os três aspectos trabalhados são responsáveis pela estrutura social interna da obra de arte e pela sua abertura para outros campos da vida. As esferas ideológicas determinam a poesia de dentro. (p. 93). A forma se realiza com a ajuda de um material determinado. (p. 93)

 

Versões consultadas:

VOLOCHINOV, V.N. Slovo v jizni i slovo v poesii. M.M.Bakhtin (pod máskoi).Moscou: Labirint, 2000. p. 72-95.

______. Le discours dans la vie et le discours dans la poesia. In: TODOROV, T. Mikhail Bakhtine: le príncipe dialogique. Suivi de Écrits du Cercle de Bakhtine. Paris: Seuil, 1980. p. 181-216.

______[M.M.Bakhtin]. Discourse in life and discourse in poetry.  In: SHUKMAN, A. Bakhtin school papers. Oxford: RTP; Colchester: University of Essex, 1983. p. 5-31.

______ (M.M.Bajtín) La palavra en la vida y la palavra en la poesia. Hacia una poética sociológica. In: BAJTIN, M.M. Hacia una filosofia del cto ético. De los borradores y otros escritos. Trad. T. Bubnova. Rubí(Barcelona): Anthoropos; San Juan: Universidad de Puerto Rico, 1997. p. 106-137.

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O discurso na vida

colaborou Flávia Machado

Durante todo o segundo semestre de 2012, nosso grupo de pesquisa continua centrado na discussão das obras do Círculo de Bakhtin dos anos 1920. Desde maio, voltamo-nos especificamente ao texto “A palavra na vida e a palavra na poesia”, publicado inicialmente em 1926 na revista Zvezda. O texto atribuído a Voloshinov leva-nos a uma maior compreensão do conceito de enunciado e de sua concretização.

No último encontro, realizado no dia 18/10, discutimos a terceira parte do texto, em que o autor discorre sobre o discurso na vida. Voloshinov afirma que o discurso verbal em si não é suficiente, tendo de estar ligado a uma situação extraverbal para garantir sua significação. Consequentemente, a pergunta que se coloca é: como o discurso verbal na vida se relaciona com a situação extraverbal que o engendra? Qual a relação do verbal com o extraverbal? Como o dito se relaciona com o não-dito?

O vazio semântico da palavra proferida deve ser preenchido pelos elementos linguísticos e, sobretudo, pelo contexto imediato extraverbal.  O contexto extraverbal, por sua vez, conta com três elementos essenciais que devem ser partilhados entre os interlocutores:

–       o horizonte espacial;

–       o conhecimento e a compreensão da situação;

–       avaliação da situação.

O discurso analisa a situação extraverbal produzindo uma avaliação sobre o evento. Faz-se importante notar que o discurso não funciona como um espelho que reproduz fielmente a situação concreta, mas se constitui como a própria avaliação do evento da vida. O enunciado concretizado que une os falantes desse evento possui uma relação estreita com a situação extraverbal. O extraverbal não age de fora para dentro no enunciado, mas sim o reveste, o integra constitutivamente.

O autor delineia as duas partes fundamentais do enunciado: aquela compreendida em palavras e a parte presumida. Assim como um entimema, conceito importado da retórica aristotélica, o enunciado possui uma parte subentendida entre os interlocutores, onde reside a situação extraverbal.  A ideia de que o enunciado passa a fazer sentido no momento em que os interlocutores partilham o conhecimento do que é presumido ressalta um contraponto importante entre o individual/subjetivo com o social/objetivo: segundo o autor, somente aquilo que todos amam, sentem, querem (…) pode construir a parte presumida do enunciado. Considerando o enunciado como um entimema social e objetivo, temos que quanto mais amplo for o horizonte social partilhado pelos indivíduos, mais constantes se tornam os fatores presumidos do enunciado.

As avaliações sociais contidas no enunciado derivam de aspectos subentendidos e que não são enunciados, como a vida econômica e política, bem como  características que se referem ao sujeito. O julgamento de valor social, que pertence à vida, organiza a forma de concretização do enunciado, por meio da própria entoação, por exemplo. Ao mesmo tempo, o julgamento deve encontrar uma expressão apropriada no conteúdo do discurso.

A partir do item 4 da obra, Voloshinov ressalta alguns elementos relativos à concretização das avaliações sociais no enunciado, a saber: a entoação, o apoio coral, a metáfora entoacional e a metáfora gestual. Trata-se da proposta de discussão do nosso próximo encontro!

Referência

VOLOSHINOV, Valentin Le discours dans la vie et le discours dans la poésie. In: TODOROV, Tzvetan Mikhaïl Bakhtine: le principe dialogique suivi de écrits du cercle de bakhtine. Paris: Éditions du Seuil, 1981. p. 181-215.

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outubro 23, 2012 · 1:55 pm

Divulgando: eventos nacionais

 

III Simpósio Língua, Discurso e Contexto – GEDUSP

06 e 07 de junho de 2013, FFLCH, USP / SP

http://www.gedusp.org/

 

III SINALEL – III Simpósio Nacional de Letras e Linguística e II Simpósio Internacional de Letras e Linguística.

De 11 a 14 de junho de 2013, na UFG/Campus de Catalão.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 28/02/2013.
Informações: http://goo.gl/LRBsw
 IV Coloquio de Investigadores en Estudios del Discurso / III Jornadas Internacionales sobre Discurso e Interdisciplina.

De 12 a 14 de junho de 2013, Universidad de Quilmes, Bs. As. Argentina.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 23/03/2013.
Informações: aled2013.unq.edu.ar/

 VII CIEL – Ciclo de Estudos em Linguagem / UEPG

De 19 a 21 de junho de 2013, Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 31/05/2013.
Informações: ciel2013.blogspot.com.br/

 Jornada de Estudos Linguísticos e Literários da Unioeste/PR

De 24 a 28 de junho de 2013, Campus Marechal Cândido Rondon.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 15/06/2013.
Informações: www.jell-unioeste.com.br/

XV Congreso Brasileño de Profesores de Español

De 23 a 26 de julho de 2013, na UFP/Recife.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 23/04/2013.
Informações: apeepecurso.wordpress.com/

XVII Congresso Nacional de Linguística e Filologia.

De 26 a 30 de agosto de 2013, na UERJ/RJ.
Informações: www.filologia.org.br/

I Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura

De 01 a 03 de setembro de 2013, USP, SP.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 15/04/2013.
Informações: www.pesquisaemcultura.org/?page_id=498

II CIFALE – Congresso Internacional da Faculdade de Letras da UFRJ

De 02 a 05 de setembro de 2013, UFRJ.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 31/07/2013.
Informações: www.cifale.letras.ufrj.br/circulares.html
 13th International Pragmatics Conference – IPRA

De 08 a 13 de setembro de 2013, Nova Deli, Índia.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 01/11/12.
Informações: ipra.ua.ac.be/main.aspx?c=.CONFERENCE13

 IX ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura.

De 11 a 13 de setembro de 2013, UFBA.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 30/04/2013.
Informações: www.enecult.ufba.br/

Congresso Internacional 100 anos com Saussure

De 16 a 20 de setembro de 2013, FFLCH, USP/SP

https://sites.google.com/site/comsaussure/home

 IV Encontro Internacional dos Estudos da Linguagem.

De 25 a 27 de setembro de 2013, Pouso Alegre/MG.
Informações: www.cienciasdalinguagem.net/#!enelin2013/c11fm

VI Conferência de Linguística e Cognição

De 23 a 28 de setembro de 2013, Santa Cruz do Sul/RS
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 17/06
Informações: www.unisc.br/site/tecendo-conexoes/pages/inscricoes.html
 VI Coloquio Internacional del Programa Edice

De 30 de setembro a 04 de outubro, México.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 15/04/2013.
Informações: edice.org/

INPLASIL 2013 – 19º Intercâmbio em Pesquisa Linguística e 5º Seminário Internacional em Linguística.

De 08 a 11 de outubro de 2013, na PUC-SP.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 10/06/2013.
Informações: inplasil2013.com.br/submissao/comunicacaooral/

 XXI Seminário do CELLIP – Universidade Estadual do Paraná

De 23 a 25 de outubro de 2013, Paranaguá.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 21/06/2013.
Informações: cellip2013.blogspot.com.br/p/inscricoes.html

  4º Congresso Nacional de Letras, Artes e Cultura – 1º Congresso Internacional de Letras Artes e Cultura

De 04 a 07 de novembro de 2013, UFSJ, MG.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 22/06
Informações: www.congressoletrasufsj.com.br/index.php

 IV Simpósio Internacional de Letras e Linguística – Silel

De 20 a 22 de novembro de 2013, UFU, Uberlândia, SP.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 12/08
Informações: www.ileel.ufu.br/SILEL2013/pt/datasimportantes.asp
 I Congresso Internacional de Linguagem e Direito – UFSC

De 11 a 13 de dezembro de 2013, UFSC, Florianópolis, SC.
Prazo para submissão de propostas de comunicação: até 15/05
Informações: pattie.fe.up.pt/ocs/index.php/LL/LL2013

Leia mais: http://www.linguagem-cultura.org/agenda-de-congressos/

2012:

7 e 15 de agosto 2012, Encontros internacionais GED/ USP, Horário: 14h, Local: Auditório 8 do Prédio de Ciências Sociais, Cidade Universitária (USP)
7 de agosto, terça-feira, Conferência: “Lukács and Bakhtin Revisited” – Galin Tihanov (Docente University of London)

15 de agosto, quarta-feira, Conferência: “THE BAKHTIN CIRCLE – Theories of the Origins of Literature in the early USSR” – Craig Brandist – docente da University of Sheffield e diretor do Bakhtin Centre

16 e 17 de agosto 2012, II Simpósio Internacional de Estudos Discursivos, UNESP / Assis – SP

Clique para acessar o II_SIED_2012.pdf

17 de agosto 2012, VII Jornada Linguagem, Identidade e Memória, PUC / SP

http://www.linguagemememoria.com.br/materias.php?cd_secao=171&codant=&friurl=:-VII-Jornada-:

30 e 31 agosto 2012, II Simposio Língua, Discurso e Contexto, Casa de Cultura Japonesa – USP 

http://sce.fflch.usp.br/node/861

5 e 6 de  novembro 2012, I SEDIAR -I Seminário de Estudos sobre Discurso e Argumentação, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA

http://www.uesc.br/eventos/sediar2012/

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Um desenho teórico-metodológico de “Marxismo e Filosofia da Linguagem”?

colaborou Simone Ribeiro Velosos

Publicado inicialmente em 1926 na revista Zvezda, “A palavra na vida e a palavra na poesia” compõe o conjunto de textos em que a autoria não se configura ponto pacífico. Tatiana Bubnova (2009) explicita o cenário das “calientes” controvérsias que compõem o espaço de interlocução compartilhado por pesquisadores bakhtinianos.  De todo modo, a leitura desse importante ensaio revela o fervilhar de pensamentos característicos do chamado Círculo de Bakhtin. 

Partindo da tradução realizada em francês e publicada em 1981 por Todorov, o texto traz o seguinte subtítulo: “Contribution à une poétique sociologique”, o que nos remete a uma abordagem sociológica/marxista da obra poética/literária, e estabelece embates teórico-metodológicos com duas outras perspectivas teóricas: a dos formalistas/estruturalistas e em relação ao subjetivismo individualista. Desse modo, dialoga com “Problemas do conteúdo, do material e da forma verbal na criação literária”( 1924), porém, de modo a delimitar os contornos metodológicos de uma ciência que considere os subentendidos como a “essência/alma de sentido” da palavra/discurso.  Daí considerar o enunciado concreto como um entimema.

Um  dos aspectos teóricos mais revolucionários desse texto configura-se na noção de “avaliação” vista sociologicamente como imanente ao signo ideológico, tornando-se, assim, em um DOGMA. O deslocamento da avaliação suscitaria a RELATIVIZAÇÃO do dogma e, portanto, a abertura para o nascimento de controvérsias, mais do que a aceitação do mesmo.

Referências

BUBNOVA, Tatiana Voloshinov: a palavra na vida e a palavra na poesia. In: BRAIT, Beth Bakhtin e o Círculo (Org.). Trad. Fernando Legón e Diana Araujo Pereira.São Paulo: Contexto, 2009. p. 31-48.

PONZIO, Augusto Il linguaggio come pratica sociale. Bari: Dedalo, 1980.

VOLOSHINOV, Valentin Le discours dans la vie et le discours dans la poésie. In: TODOROV, Tzvetan Mikhaïl Bakhtine: le principe dialogique suivi de écrits du cercle de bakhtine. Paris: Éditions du Seuil, 1981. p. 181-215. 

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